Da série “Retratos de um Direito”: Escravidão moderna na lente de Lisa Kristine
É possível que algumas pessoas achem que, por não haver mais negros sendo vendidos na praia de Santos para trabalharem em fazendas, a escravidão tenha acabado. O trabalho a troco de nada, no entanto, não acabou, quiçá diminuiu. Adaptou-se nos porões das fábricas, no fundo das minas, nos becos das estradas.
Sobre a escravidão moderna, vale a pena conferir o ensaio da fotógrafa Lisa Kristine. A norte-americana, que também é conhecida internacionalmente por seu trabalho sobre a população indígena, visitou diversos locais do mundo a procura da escravidão moderna, que massacra dezenas de milhões de pessoas no mundo.
O ensaio foi disponibilizado pelo TED, uma organização mundial que aposta em boas ideias. Veja como ficou:
Mulheres em uma olaria indiana equilibram em suas cabeças pilhas de tijolos até os caminhões de transporte.
Homens, mulheres, crianças e famílias inteiras passam o dia envoltos em um cobertor denso de poeira enquanto empilham tijolos manualmente. Em alguns lugares da olaria a temperatura atinge 130 graus.
Praticamente anestesiados pela monotonia e cansaço, os “trabalhadores” realizam suas tarefas em silêncio. São 16 horas por dia em condições surreais. Não há pausa para comer ou beber água, a desidratação é tão grave que eles praticamente não urinam durante a jornada.
As crianças também trabalham. Kristine narrou que o calor estava tão forte que sequer era possível segurar a câmera, que parou de funcionar momentos depois. Ela retornou ao carro, ligou o ar condicionado e esperou a câmera “ressuscitar”, enquanto isso pensou “minha câmera está recebendo um tratamento melhor do que o dessas crianças”.
Kristine contou que sentiu vontade de chorar diversas vezes. “(…) demonstrações emocionais são perigosas em um lugar como este, não só para mim, mas para eles. Eu não podia oferecer qualquer tipo de ajuda direta. Não podia dar dinheiro, nada. Isso poderia levá-los para um situação pior ainda”.
Himalaia, crianças transportando pedras. O caminho é longo e o terreno montanhoso. Os caminhões esperam por elas no final da estrada.
Esse é o retrato de uma família que trabalha em um fábrica têxtil na Índia. As mãos tingidas de preto são do pai, as negras, azuis e vermelhas são dos filhos. O corante usado para tingir os tecidos é tóxico.
Lake Volta é o maior lago artificial do mundo, os peixes são uma forma de moeda. Mais de 4 mil crianças são escravizadas para pescar lá.
Muitas crianças são retiradas de suas famílias, traficadas e forçadas a trabalhar horas intermináveis no lago. Muitas delas não sabem nadar.
Kofi é uma das crianças resgatadas pela organização Free the Slaves.
Escravos em uma mina em Gana. Eles chegam até 300 metros de profundidade, são obrigados a carregar sacos de pedras durante todo o percurso.
Escravos garimpando ouro. Toda água está envenenada por mercúrio.
Muitos mineiros ficam no subsolo por mais de 72 horas.
4 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.
Quando uma sociedade aceita isso, finge que não vê, ou mesmo usufrui dos efeitos, algo de maléfico ocorre silenciosamente na consciência coletiva dessa sociedade, e consequentemente na mente de seus integrantes. É um fator que influenciará o futuro dessa sociedade. Não me excluo dela, e nem da culpa. continuar lendo
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Falta-nos a leitura no tempo certo. continuar lendo
Lamentável... continuar lendo
A escravidão contemporânea é realidade fartamente documentada como podemos ver nas fotos acima e repudiada pelos países da ONU oficialmente,mas o número dos escravizados de hoje ultrapassa o da era moderna nos séculos XVIII e XIX, quando aconteceu a luta pelo fim do tráfico negreiro e abolição da escravatura. A luta pela erradicação do trabalho escravo no Brasil sofreu um revez com a suspensão da lista suja que informa quem incorreu neste delito para que não possa receber nenhum financiamento bancário enquanto não saudar suas dívidas . Infelizmente este ato se deu por liminar judicial do presidente do STF! continuar lendo